Rito de passagem


Povos no mundo todo têm seus ritos de passagem. Não precisa ser necessariamente o ritual tribal onde o menino passa por uma série de desafios para ser considerado um membro valioso para sua comunidade, ou uma mulher que atravessa a fase menina para mulher, ou rituais religiosos e ligados às tradições.  Pode ser uma passagem de fase escolar, por exemplo, algo que faça sentido para um indivíduo ou coletividade.

Muitos desses ritos de passagem estão disseminados em todas as culturas como uma tradição, o que poderia nos levar a crer que existe um fator comum que liga todos estes conceitos de “passagem”, de fase criança para o adulto, ou do adulto para sua próxima jornada. Por exemplo, os aborígenes australianos da tribo Mardudjara, em seu rito de passagem, levam garotos para o corte do prepúcio – depois disso o garoto passa por outros ritos. Mas, como povos tão diferentes, e distantes, têm conceitos iguais para o que significa esta transposição de fase entre a infância e o ser adulto?

Prestando atenção em todos os povos e suas diferentes etnias, formas de linguagem, e concepção de vida, a teoria de que este planeta já foi um porto para muitas raças alienígenas pode fazer sentido.  Levando em consideração que absorvemos muito da cultura uns dos outros aqui no planeta, não seria surpreendente que entre civilizações que aqui chegassem seja como baldeação para outras paradas, ou como rota de comércio, este mesmo sentido de importância à tradição e cultura de outros povos também pudessem ser assimilados. Como seres humanos, muitos destes costumes e tradições podem ter sido absorvidos, e não podemos negar a aculturação entre nós mesmo quando povos inteiros são forçados a agregar em suas vidas os ritos do novo colonizador.

Em uma reunião recente, um amigo me disse que é difícil “soltar o osso” quando estamos convictos de alguma coisa. Pensei muito sobre isso, e sobre como preferimos a zona de conforto ao desafio. No entanto, o desafio está em ir ao centro desse osso onde o tutano está, uma matéria rica em nutrientes e que nos faz entender um pouco do que somos feitos, uma matéria essencial: medula – no sentido figurado o âmago, a parte mais sutil de nós, o que nos faz ter força, coragem, nos faz ser capaz de realizar algo.  Para chegar lá é preciso sair da zona de conforto e olhar para dentro do que nos faz crescer sem medo, sem barreiras.

Aqui chegamos ao rito de passagem que vou chamar de desafio cósmico na intenção de propor uma reflexão sobre esta celebração, a interpretação e os mecanismos que, possivelmente, nos depararemos durante esta jornada. O que vamos encontrar em nossa incursão pelo Universo? Queremos dar este salto? Passar por um teste que a milênios estamos sendo catequisados para entender que estamos e sempre estivemos sozinhos neste quadrante? Quais seriam os testes pelos quais teríamos que passar para chegar a sermos considerados “adultos” e aptos a participar da comunidade cósmica? Talvez ficar por meia hora ou mais sentado no meio de uma mata, sozinho, só observando ao seu redor, se concentrando, e vendo onde sua mente o leva poderia nos dar uma infima ideia do desafio.  Para quem já passou por este teste de autocontrole sabe que a mente voa alto, e onde existe somente um galho seco ele se transforma no nosso pior pesadelo. E, se nesta incursão encontrarmos outra civilização, ou descobrirmos que não precisaríamos ir tão longe, pois estão aqui no nosso quintal? Mesmo que tenhamos o conhecimento de que a busca por outros planetas que sustentam vida não está somente neste olhar, mas na colonização, isto não deixa de continuar um desafio.

Os ritos de passagem na minha concepção sugerem que existe a fase da inocência, da descoberta, da experiência e da serenidade. Acredito que, como seres humanos, estamos na fase da descoberta. Estamos saindo de uma fase onde a aceitação do que era imposto e subjugado está em sua fase final. Passamos lentamente para a descoberta, e a passos largos descobrindo que havia mais naquela frase “"O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora." –  A Lei da Correspondência - o segundo princípio da Filosofia Hermética – do que uma interpretação rasa. Vivemos olhando apenas para nosso umbigo, o umbigo do mundo. No entanto, a realidade é macro e não microcósmica. Fomos literalmente expurgados de qualquer ideia sobre outras civilizações, seja fora ou no próprio planeta, e esta ideia não é bem-vinda ainda hoje, pois coloca instituições de poder em xeque.

Como acreditar que outras civilizações possam nos aceitar com espirito fraterno se aqui não conseguimos este feito? Aí está o desafio do nosso rito de passagem. Precisamos atingir um grau de experiência e serenidade que nos faça dar o salto quântico em equilíbrio com o ritmo que estamos empregando nesta jornada. Para isso precisamos nos entender enquanto humanidade, respeitar o planeta e sua diversidade de Vida. Em pleno século XXI, o futuro parece longe de ser alcançado. Guerras, violência, doenças e pobreza ainda assolam o planeta, algo inimaginável nos livros de ficção a partir do século XIX. Nesta altura vem o questionamento: - Ok, mas e estes “estrangeiros” que estão aqui? Por que não aparecem e fazem alguma coisa?  A resposta pode não ser simples, talvez nem seja esta, mas poderíamos supor que pelo mesmo motivo que um estranho – pessoa comum -  não sai do seu país e tenta resolver, ou solidarizar com um povo sofrido que perde seu país, sua casa, família, amigos, passa fome, frio e está doente de corpo e alma, sendo ele um completo estranho àquela cultura e suas leis. Poderíamos também questionar que sim, existem pessoas que fazem este tipo de incursão. No entanto, temos que lembrar que elas estão envolvidas em organizações voltadas para este fim. É muito raro um indivíduo sozinho ter essa iniciativa, não impossível, somente raro.  Normalmente as pessoas ficam indignadas dizendo que isso não é humano ou fraterno. No entanto, fazemos isso entre nós, seja com um pedinte, esfomeados, órfãos, pessoas que sofrem violência, etc. Isto sem citar animais ditos de estimação, e ao extermínio de fauna e flora.

Nosso rito de passagem, antes de alçar voos intergalácticos, está em superar nossas limitações aqui. Os observadores – aqueles que estão nos estudando a tempos incontáveis -  sabem que uma parcela ainda que pequena, mas representativa em ações de mudança estão fazendo sua parte. O resultado é lento, mas constante, mesmo que não apareça. Portanto, ainda estamos em pleno rito de passagem esperando que a experiência através de tantos dados registrados na história humana nos permita não retroceder, mas crescer, amadurecer, nos aceitarmos enquanto uma só humanidade para chegarmos a fazer parte de um círculo maior de contato, onde começará o novo desafio e um novo rito de passagem.

Cybele Fiorotti.






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