Pensando fora da caixa
De Xenolinguística a cefalópodes
Em matéria anterior “Comunicação,
linguagem e língua” iniciamos
uma discussão sobre como seria a interpretação dos códigos de linguagem com a
descoberta ou contato com uma cultura extraterrestre. O assunto é vasto, e pode
ser cansativo, não nego. No entanto, como pensar em contato sem discutir sobre
parâmetros quê nos dariam os mecanismos para chegar ao resultado que
pretendemos – troca entre culturas. O
mais interessante é que quando começamos a focar em um tema ele começa a
aparecer de forma sincrônica, como se o seu foco o colocasse em evidência. Ele
te persegue, portanto não está concluído. Este é o motivo para voltar ao tema e
tentar não ser repetitiva, pois o tema é interessante e está sendo estudado por
cientistas em todo o mundo – mesmo que extraterrestre exista somente na
ficção.(?)
Vamos
falar em recursão e dêixis. O primeiro é “método de resolução de problemas que
envolve quebrar um problema em subproblema menor até chegar a um problema
pequeno o suficiente para que ele possa ser resolvido.” O filme “Perdido em
Marte” nos deu uma amostra quando Mark, deixado no planeta vermelho, tem que
repensar sobre sua sobrevivência conhecendo a realidade na qual se encontrava,
e transformando um grande problema em problemas menores, resolvendo um de cada
vez. Dêixis são elementos linguísticos que indicam o lugar (aqui) ou o
tempo(agora) em que um enunciado é produzido, e também indicam os participantes
de uma situação do enunciado (eu/tu).(Prof. Glória Galli). Mas, o que isso tem
a ver com o que estamos falando? Bom, se a recursão – usado em linguagem
algorítmica – trata de quebrar um problema em subproblemas, e dêixis é igual a
“apontar para”, estamos nos colocando entre
questionamentos para resolvermos
questões básicas: nossa capacidade para “pensar” soluções para eventos
extraordinários.
A Xenolinguística, que trata do estudo
de língua extraterrestre -
xeno prefixo de origem grega e quer dizer estranho – tem sido razão
de estudos na Universidade do Texas, Campus Austin, no departamento SETI
e METI.
O título acima “ De Xenolinguística
a cefalópoles” inclusive parou insistentemente em minhas páginas de
busca o que me levou a pensar duas vezes antes de descartar o fato de que iria
reprisar o tema.
Hoje, se você colocar no Google
“mensagens extraterrestres” irão surgir milhares de páginas de pessoas que
dizem manter contato e receber mensagens. Aqui não estou fazendo juízo de
valor, nem questionando a palavra de cada detentor da mensagem. O que está em
pauta é pensar fora da caixa, se permitir ir além diante de tanta insistência
nesta afirmação, e isolar mentalismos. O ser humano tem um ponto positivo nesta
jornada, sua curiosidade e esperança em soluções para o que não encontra
resposta. A partir daí, podemos fazer várias perguntas dentro desse mote como:
1. Qual o
contexto existencial que estes seres podem compartilhar conosco? Levando em
consideração que estamos falando de seres como nós, vivos e físicos.
2. Podemos
chegar a uma gramática universal, ou seja, criar um campo comum onde a
percepção dos interlocutores fizessem a
intersecção da troca de informação?
3. O que
aconteceria se os extraterrestres tiverem sua própria linguagem, sem um campo
comum a ambos os interlocutores?
4. Haveria um
campo interdisciplinar envolvendo vários estudos?
5. Atingiríamos
este nível de generosidade, paciência e imaginação exigidos?
Semiosphere
A ideia predominante de que os
encontros entre culturas são explosivos, dialógicos e geradores de sistemas de
signos novos foi a principal responsável pelo questionamento que levou o
semioticista russo Yuri Lotman a investigar as relações entre sistemas de
signos no interior da ”semiosphere”. Aqui, levo em conta que esta visão se
baseia na história humana que há milênios traz na sua trajetória um contexto
histórico de múltiplas e diferentes culturas. Portanto, podemos imaginar o que
seria sob a perspectiva de um contato com outras humanidades ou humanoides, e traçar
este contexto de informação.
1. O que
acontece no encontro entre culturas?
2. Que tipo
de diálogo eles travam entre si?
3. Que tipo
de experiência criam capaz de reconfigurar o campo de forças culturais?
4. Qual seria
o papel de cada um – quem recebe e quem chega?
Martin Holdraad, antropólogo, cita: “Quando encontramos diferenças profundas, os
conceitos que já temos pode não ser suficiente para descrever os dados, muito
menos interpretar ou explicar o que estamos encontrando.”
Neste ponto chegamos a outro aspecto
interessante. Nosso tempo espacial amplia ou contrapõe a capacidade desta
interação entre civilizações humana e não humana? A noção de tempo/espaço para
o homem nestas últimas décadas sofreu alteração, no meu ponto de vista. Com a
chegada da era digital esta noção tornou-se ambígua diante do “tempo real”.
Hoje estamos conectados dia e noite com todos os povos com acesso às novas
tecnologias, falamos instantaneamente uns com os outros, e acompanhamos
astronautas em tempo real no espaço. Temos hoje a noção de um tempo/espaço mais
curto, como se o dia não mais tivesse suas 24h. Como entenderíamos a questão
tempo/espaço contatando civilizações com outra perspectiva? O antropólogo Massimo Canavacci trouxe o termo “ubiquitempo” em sua palestra na Intercontinental Academia (ICA): “Para o
antropólogo, os indivíduos ubíquos podem transitar entre diversas identidades,
espaços e tempos, dando origem ao multivíduo. Trata-se, afirmou, da
multiplicação de subjetividades para além das identidades fixas: "A
ubiquidade desafia a identidade, que se torna mais flexível. O sujeito ubíquo
da experiência etnográfica é multidividual". Aqui, repito, a discussão
está em relação ao ser humano. Tento transportar para fora deste contexto e
buscar outra perspectiva.
A descoberta de novos padrões
culturais, formas de pensamento, idiomas – em formas que não podemos ainda
traçar, nos colocaria em um novo padrão enquanto sociedade. Podemos medir esta
expectativa quando conhecemos os “conlanger” ou criadores de idiomas. É uma
etnografia especulativa criando ou inventando línguas estrangeiras, como por
exemplo Klingon,que inclusive tem uma rádio e uma universidade; a língua Dothraki em Games of
Trones; Quenya e Sindarin em Hobbit e Senhor dos Anéis, inclusive com um curso
publicado em livro; Na’vi
em Avatar, o que nos dá uma percepção das expectativas que o contato gera. O
ponto positivo nesta curiosidade, se podemos chamar assim, é o fato de que estes
esforços expandem nossa capacidade de imaginar possibilidades.
Também temos uma linguagem artificial, esta real, desenvolvida para
enviar mensagens para extraterrestre, na década de 1960, pelo matemático
holandês Hans Freudenthal -
Lincos “projeto de uma linguagem para diálogo cósmico, com o objetivo de
projetar uma língua que possa ser compreendida por uma pessoa que não tenha
conhecimento de nenhuma de nossas linguagens naturais, ou mesmo de suas
estruturas sintáticas. As mensagens comunicadas através dessa linguagem contêm
não apenas matemática, mas em princípio (levam) todo o estofo do nosso
conhecimento” – trecho publicado Open Culture.
Lincos, língua falada tecnológica, “feita
de ondas de rádio não-moduladas, de duração e comprimentos variáveis,
codificada com um conjunto de símbolos emprestados da matemática, da ciência,
da lógica simbólica e do latim.”
Entramos agora em um campo desconsiderado
pelo ser humano apesar de sua interação com animais domesticados. Como vamos
conseguir nos comunicar com criaturas extraterrestres, das quais nenhuma
informação especifica foi registrada – aqui estou supondo que a massa humana
vai realmente ter certeza de algo quando for indicado pelos meios científicos –
se não o conseguimos com outras criaturas aqui mesmo no planeta Terra, que são
inteligentes, demonstram isto nas pesquisas recentes como por exemplos de insetos
a cetáceos e cefalópodes, primatas, entre outras descobertas fantásticas que
estão sendo realizadas.
Como entender o que hoje, supostamente,
é recebido como mensagem de raças alienígenas?
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