O mensageiro e a mensagem
Nos deparamos diariamente com um volume expressivo de
mensagens vindas de diversas fontes. Discutir a veracidade ou não do conteúdo,
neste caso, não é o ponto central da reflexão nesta matéria , mas a capacidade
que tem o mensageiro de ser imparcial, ou não, mental e emocionalmente em relação ao que
recebe.
Estamos falando de seres humanos, que por razões elucidadas
homeopaticamente ao longo dos séculos, entende que a interferência mental no conteúdo
do que considera uma “conversa” linear, seja através de telepatia, ou o que é
denominado canalização, é uma constante. Seja pelo desejo em expressar uma
mensagem positiva, seja para inserir um diálogo mais elaborado dentro do que
entende por espiritualidade, o caráter impessoal passa por filtros e paradigmas
do receptor.
Seja qual for a razão, ou a explicação dentro das novas
teorias quânticas , o mensageiro tem o dom de alterar drasticamente uma
comunicação. Sua base religiosa, condicionamentos sociais e familiares, são
fatores que pesam na narrativa. Um exemplo clássico são mensagens
compartilhadas por entidades considerados na cultura ocidental, ou oriental,
como ícones religiosos.
Somos condicionados a acreditar que homens que viveram em
épocas anteriores ao chamado mundo contemporâneo, moderno, eram dados a missões
de sacrifícios, entrega para salvar a humanidade, ou provar sua fé irrestrita
em dogmas religiosos – incluindo sacrifício pessoal para validar suas ações. No
entanto, se colocarmos este mesmo ser humano na condição socio, político,
econômico e religioso em que viviam, entenderemos que eram homens
revolucionários, alguns à frente de seu tempo; ou seres humanos doutrinados
para um determinado fim. Alguns procuravam elucidar mentes embotadas por
superstições, e pouco conhecimento, do que a realidade naquele tempo permitia
que tivessem acesso; outros para manter a situação vigente no mesmo patamar
aumentando seu poder de manipulação.
Trazendo para os dias atuais, e comparando mensagens de
épocas anteriores, veremos que existe uma linha clara nesta evolução do
conhecimento, pois as novas tecnologias e a busca por informação cada vez mais
disponível, e em tempo real, trouxe ao homem deste século XX e XXI uma clareza
maior de fatos que antes eram ocultados.
No entanto, a liberdade de expressão, um direito conquistado a duras penas, trouxe também uma
capacidade exacerbada de deduzir pelos próprios parâmetros, quantificando o que
considera o entendimento correto de mensagens, incluindo a replicação por terceiros
tirando suas próprias conclusões, acrescentando dados que não foram trazidas
pela fonte original.
“O significado de uma expressão linguística é o produto
conjunto de todas as evidências que ajudam os aprendizes e usuários da
linguagem a determinar esse significado”. Dagfinn Follesdal
Acrescento a este estudo do filósofo norueguês Dagfinn
Follesdal, o endosso de Willard Van Orman Quine, matemático, filosofo e lógico
norte-americano:
“o que importa é que o significado
linguístico é uma função do comportamento observável em circunstâncias
observáveis.”
Os detentores atuais das teses sobre linguística fixaram um
padrão para as discussões atuais. No entanto, nada sabemos , em tese, até que
fique documentado cientificamente o que registros históricos trazem como “início
da raça humana” como a conhecemos. O linguista norte-americano Daniel Everett está
ampliando teorias pré-fixadas com suas pesquisas sobre a língua dos índios
brasileiros da tribo Pirahã, na Amazônia – “ Aprendi sobre uma
autoconfiança que eles têm de poder lidar com seu meio ambiente, e a felicidade
que essa confiança traz para eles. Eles sabem que existe um passado, mas não
falam sobre ele porque o passado já era, 'o importante é cuidar dos nossos
filhos, cuidar do meu ambiente agora e não se preocupar com o futuro'. (...)
Eles não têm culto ou religião, não têm crença em um Deus superpoderoso que
criou o mundo. Simplesmente são, na realidade, cientistas, empíricos — têm
conhecimento pelas experiências na mata, e não especulações sobre o que não dá
para ver", afirma. (Fonte: BBC News)
Como seria para seres
humanos com esta visão um contato telepático, canalização, ou qualquer outra
experiência anômala ao seu meio cultural?
O ponto crucial não está na mensagem, mas no mensageiro e,
principalmente, nos replicadores das mensagens. O primeiro intercurso já traz
ruídos, mesmo que não proposital, mas sofre a interferência cultural do
recebedor. Os que leem, estudam, e sentem-se no impulso de compartilhar passam
a reinterpretar o conteúdo impondo na maioria das vezes seus próprios paradigmas,
sua própria visão cultural do enunciado, acrescentando novas narrativas.
Uma comunicação sem interferência é extremamente difícil, e
as mais susceptíveis ao menor ruído são aquelas cuja narrativa está fora do
espectro de conhecimento do receptor. Por exemplo, uma pessoa que acessa em uma
troca de informação, uma comunicação de conteúdo totalmente desconhecido do seu
universo pessoal de conhecimento. Neste caso, o analista pode verificar se
houve manipulação do receptor, ou se a “mensagem” está linear, sem
interferência direta.
É preciso cautela atualmente. A desinformação está em um
nível preocupante. A forma como as diversas mídias sociais são usadas para manipular mentes e trazer para o universo dos incautos,
os mais susceptíveis, a acreditar em qualquer mensagem, aumenta dia a dia. Ler,
contextualizar e decodificar o que está por traz do que é trazido a público é
um direito de todos que não querem ser manipulados.
Vivemos tempos incríveis, com recursos cada vez mais
avançados , onde governos e organizações abrem terreno para novas informações.
Portanto, somos gerenciadores e selecionadores do que recebemos e
compartilhamos.
Hora de atenção!
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